Com pétalas que lembram pequenos cálices de porcelana e uma paleta de cores que vai do verde pálido ao vermelho intenso, a orquídea do gênero Lycaste é um verdadeiro espetáculo da natureza. Pouco conhecida fora dos círculos especializados, essa planta pertencente à família Orchidaceae reúne elegância, perfume discreto e uma estrutura foliar que impressiona tanto quanto suas flores.
Originária de regiões montanhosas da América Central e do Sul — especialmente México, Guatemala e Colômbia —, a Lycaste floresce em ambientes onde o clima é ameno, com boa umidade e luminosidade filtrada. Segundo a botânica e pesquisadora Vera Prado, especialista em orquídeas de clima tropical, essa espécie se destaca por suas flores grandes, de textura cerosa, que geralmente aparecem no final do inverno e início da primavera.
“O gênero é vasto, com dezenas de espécies naturais e híbridos que vêm sendo cruzados por cultivadores apaixonados. O charme da Lycaste está em sua forma arquitetônica e na variedade cromática, que pode variar conforme a espécie e a forma de cultivo”, explica a especialista. Aliás, é comum que uma única planta produza mais de uma haste floral por pseudobulbo, o que resulta em florações generosas e prolongadas. Outra característica marcante está nas folhas: longas, elegantes e caducas em muitas espécies, elas caem naturalmente após o ciclo de floração, o que permite que a planta entre em um período de dormência.

Essa fase é essencial para seu desenvolvimento e deve ser respeitada com atenção. A paisagista e colecionadora de orquídeas Júlia Ramos lembra que a Lycaste é ideal para quem deseja um toque de exotismo em estufas e interiores bem iluminados. “É uma planta de beleza sofisticada e que demanda observação. Ela não é difícil de cultivar, mas exige que o jardineiro compreenda seu ritmo, respeite sua dormência e ofereça as condições ideais de substrato e luminosidade”, comenta.
Segundo ela, a floração depende diretamente desse ciclo: se a dormência for negligenciada, a planta pode até sobreviver, mas dificilmente florescerá. Em relação ao cultivo, a Lycaste aprecia substratos bem drenados e ricos em matéria orgânica. Misturas que combinam casca de pinus, carvão vegetal e esfagno são recomendadas, especialmente para vasos de barro que ajudam a controlar a umidade.

A rega deve ser moderada durante o período vegetativo, reduzida quase a zero durante a dormência — que geralmente ocorre no outono — e retomada com a brotação de novas folhas. A luminosidade, por sua vez, precisa ser intensa, mas nunca direta. “Se as folhas ficarem amareladas ou queimadas, é sinal de que a planta está recebendo mais sol do que precisa”, alerta Júlia.
Outro ponto de atenção está na ventilação: ambientes abafados e sem circulação de ar favorecem o surgimento de fungos e pragas, como cochonilhas e pulgões. Uma dica é manter o vaso em local fresco, com ar em movimento e umidade ambiente controlada — algo entre 50% e 70% costuma ser ideal. Durante os meses mais quentes, pulverizar água ao redor da planta pode ajudar a manter essas condições, principalmente em regiões secas.

Vale destacar que a Lycaste, além de sua imponência estética, carrega um perfume suave e adocicado em algumas variedades, como a Lycaste aromatica, que exala um cheiro marcante de canela. Essa característica sensorial faz dela uma excelente escolha para composições sensoriais, varandas cobertas e até mesmo interiores com boa iluminação natural.
Por fim, embora ainda pouco difundida no Brasil fora dos círculos de colecionadores, a orquídea Lycaste vem ganhando cada vez mais espaço em exposições de orquidofilia e projetos de paisagismo que apostam na diversidade tropical. Seu ciclo de vida exige paciência, mas recompensa com uma florada exuberante e uma presença escultórica rara entre as orquídeas ornamentais.

Mel Maria, é proprietária da floricultura Mel Garden e apaixonada por plantas e jardinagem, dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.