A busca por soluções paisagísticas que aliem estética, praticidade e sustentabilidade tem colocado em evidência um conceito que, embora não seja novo, ganha força diante dos desafios climáticos e da necessidade crescente de preservar recursos naturais: o xeropaisagismo. Trata-se de uma proposta de jardim que prioriza espécies capazes de sobreviver com pouquíssima água, criando cenários surpreendentemente elegantes, modernos e de baixa manutenção.
Muito além de uma tendência, esse tipo de paisagismo se firma como uma resposta inteligente às mudanças no clima e aos longos períodos de estiagem que se tornam cada vez mais frequentes em diversas regiões do Brasil e do mundo. Segundo a paisagista Marina Viotto, especialista em projetos de áreas externas residenciais, “o xeropaisagismo promove uma conexão direta com o ambiente, trazendo beleza, funcionalidade e, principalmente, consciência ambiental”. Ela ressalta que é possível criar jardins impactantes, que esbanjam charme, textura e volume, mesmo sem depender de regas constantes.
De fato, as espécies xerófitas possuem características fascinantes. Adaptadas naturalmente a ambientes áridos, como desertos, caatingas e campos pedregosos, essas plantas desenvolveram mecanismos para armazenar água, resistir ao vento, às altas temperaturas e até a solos pobres em nutrientes. É por isso que costumam apresentar caules espessos, folhas reduzidas — muitas vezes transformadas em espinhos — e raízes que se espalham horizontalmente em busca de qualquer umidade disponível no solo.
Além disso, como explica o engenheiro agrônomo Daniel Santoro, o xeropaisagismo dialoga perfeitamente com propostas arquitetônicas contemporâneas. “Ele funciona muito bem em ambientes de linhas retas, fachadas em cimento aparente, vidro, aço e espaços que valorizam o minimalismo. O contraste da rusticidade das plantas com a modernidade dos materiais cria uma estética sofisticada e atemporal”, afirma.
A beleza que nasce da resiliência
Engana-se quem acredita que um jardim xerófito é sinônimo de aridez visual. Pelo contrário, a diversidade de formas, texturas e cores dessas plantas permite composições surpreendentes. A integração de pedras naturais, cascalhos, seixos, areia, troncos secos e elementos esculturais contribui para criar paisagens que mesclam simplicidade, beleza e robustez.

No Brasil, esse conceito encontra solo fértil, especialmente porque grande parte do nosso território abriga biomas ricos em espécies resistentes, como o Cerrado, a Caatinga e até áreas de restingas litorâneas. Espécies como cactos, agaves, mandacarus e a icônica pata-de-elefante são protagonistas em projetos que apostam no equilíbrio entre natureza e sustentabilidade.
O xeropaisagismo também não se limita a espaços externos. Vasos de tamanhos generosos, jardineiras, canteiros verticais e até terrários podem abrigar essas espécies dentro de casa, desde que recebam boa luminosidade e sejam dispostos em locais bem ventilados.
Espécies que traduzem a essência do xeropaisagismo
Entre as plantas mais emblemáticas desse tipo de jardim está a pata-de-elefante (Beaucarnea recurvata). Reconhecida por seu caule engrossado — que lembra realmente uma pata —, essa espécie é especialista em armazenar água, tornando-se extremamente tolerante à seca. Além disso, suas folhas longas e arqueadas conferem leveza e movimento ao projeto paisagístico.
Outra presença marcante é a dracena-de-Madagascar (Dracaena marginata). De porte elegante e crescimento vertical, essa planta apresenta folhas finas, alongadas e de coloração verde com bordas avermelhadas, oferecendo um toque de cor e sofisticação tanto em áreas internas quanto externas. Sua resistência a longos períodos sem água faz dela uma aliada perfeita para quem busca praticidade.

Os cactos, naturalmente, são indispensáveis quando se fala em xeropaisagismo. São mais de 1.700 espécies conhecidas no mundo, muitas delas nativas do território brasileiro. Eles se destacam pela incrível capacidade de adaptação e pela beleza escultural, que ganha ainda mais evidência quando são combinados em grupos de diferentes alturas, formatos e tonalidades.

Por fim, não poderia faltar o mandacaru (Cereus jamacaru), símbolo do sertão nordestino. Com suas colunas verdes que podem ultrapassar três metros de altura, essa planta não apenas confere imponência ao jardim, como também carrega um forte valor cultural. Suas flores brancas, que se abrem durante a noite, são um espetáculo à parte.

Autora convidada, Ivani K. é uma paisagista e jardineira com mais de 30 anos de experiencia, apaixonada por criar espaços que vão além da estética. Seus posts são informativos, criativos e motivadores, ajudando as pessoas a criarem seus próprios oásis verdes.