Ao notar que o caule da rosa-do-deserto (Adenium obesum) está mole, escurecendo ou com sinais de apodrecimento, o primeiro sentimento costuma ser de frustração — especialmente se a planta vinha sendo cultivada com dedicação. Mas antes de desistir, vale entender que esse quadro pode ser revertido, desde que identificado a tempo e tratado com as medidas corretas. E o mais importante: quanto mais cedo a intervenção, maiores as chances de sucesso.
A rosa-do-deserto é famosa por sua aparência escultural e sua capacidade de florescer exuberantemente, mesmo em ambientes com baixa umidade. Contudo, sua maior vulnerabilidade está justamente no caule e nas raízes, que funcionam como reservatórios de água e são altamente suscetíveis ao excesso de umidade.
Segundo o engenheiro agrônomo Lucas Amaral, da Escola Brasileira de Jardinagem, “a causa mais comum do caule mole na rosa-do-deserto é o encharcamento do solo, aliado a um substrato que não oferece boa drenagem. Isso favorece o surgimento de fungos e bactérias que atacam os tecidos da planta, especialmente em dias mais frios”.
O especialista alerta que, em muitos casos, o problema começa pelas raízes e só se torna visível quando já atingiu parte do tronco. Além disso, há outro fator que costuma passar despercebido: o uso de vasos sem furos ou com excesso de pratinho embaixo, o que mantém o substrato úmido por muito tempo. A aparência saudável da planta por fora pode mascarar um interior comprometido, e o apodrecimento avança de forma silenciosa.

Quando o caule já está mole, o ideal é agir com rapidez. De acordo com a paisagista Bruna Tavares, da Flora Jardim Aberto, o primeiro passo é interromper completamente as regas e retirar a planta do vaso com delicadeza. “Nessa etapa, é essencial examinar as raízes e o caule base. As partes enegrecidas, moles ou com odor forte devem ser retiradas com cortes firmes, feitos com instrumentos esterilizados”, explica. Ela recomenda o uso de canela em pó ou enxofre agrícola sobre as áreas cortadas, pois atuam como fungicidas naturais e ajudam na cicatrização.
Após essa limpeza, a rosa-do-deserto precisa de tempo para se recuperar. “Deixe a planta em um local seco e arejado por dois a três dias antes de replantar. Esse repouso é importante para secar as feridas e evitar que o fungo se espalhe novamente”, orienta Bruna. Só então deve ser feito o replantio em um novo substrato, com boa drenagem — uma mistura de areia grossa, carvão vegetal moído, fibra de coco e terra adubada costuma funcionar bem. O vaso, por sua vez, precisa ter furos generosos para escoamento da água.

Durante as primeiras semanas após o replantio, é indicado evitar regas regulares. Lucas Amaral recomenda borrifar água nas folhas e manter o substrato apenas levemente úmido.
“O excesso de zelo na irrigação é, muitas vezes, o grande vilão da rosa-do-deserto. É preciso lembrar que ela é uma planta de clima semiárido, acostumada a sobreviver em períodos de estiagem”, destaca.
Com o tratamento correto, a planta tem boas chances de rebrotar. Se, por outro lado, o caule estiver completamente comprometido — escuro e mole por toda a sua extensão — pode ser necessário descartar a planta. Porém, se houver um galho ainda firme e saudável, é possível fazer estaquia. Basta cortá-lo com cuidado, deixar secar por alguns dias e replantar em substrato seco, como se fosse uma nova muda.

Mel Maria, é proprietária da floricultura Mel Garden e apaixonada por plantas e jardinagem, dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.