Quando pensamos em compor um jardim encantador, é natural imaginar a variedade de folhagens, flores e aromas. No entanto, há um elemento silencioso que transforma o projeto paisagístico em algo completo: as pedras. Além de seu papel decorativo, elas colaboram diretamente para a drenagem, organização dos espaços, conforto térmico e até para o controle de ervas daninhas. Com diferentes texturas, cores e usos, as pedras naturais e industrializadas revelam o quanto a natureza — mesmo em estado bruto — pode ser essencial na estética e funcionalidade do jardim.
Segundo a paisagista e consultora ambiental Marília Santana, as pedras servem como “marcos visuais” no terreno. “Elas criam caminhos, delimitam áreas, reduzem a necessidade de manutenção e tornam o solo mais equilibrado. Uma escolha bem feita valoriza tanto jardins clássicos quanto contemporâneos, sem a necessidade de intervenção constante”, diz.
O papel funcional das pedras no paisagismo
Não se trata apenas de beleza. O uso de pedras em jardins tem um valor técnico importante. Quando dispostas sobre o solo, elas ajudam a conservar a umidade, evitam respingos de barro, reduzem o risco de erosão e atuam como barreira física contra plantas invasoras. Isso sem falar no conforto térmico: pedras claras, como o mármore e a dolomita, refletem a luz do sol e mantêm a temperatura do solo mais amena — algo fundamental para espécies sensíveis ao calor.

Por outro lado, pedras mais escuras, como o granito flameado, absorvem calor e aquecem o solo, o que pode ser útil em regiões frias ou em projetos que pedem esse tipo de controle térmico. “O truque está em saber equilibrar funcionalidade e composição estética, para que a escolha da pedra esteja integrada ao bioma e às plantas cultivadas”, afirma o arquiteto-paisagista Rafael Moura.
Critérios para escolher a pedra ideal
Antes de decidir pelo tipo de pedra, é essencial entender qual será sua função no projeto. Para áreas de circulação, por exemplo, o ideal é optar por materiais com superfície antiderrapante e que resistam ao tráfego. Em canteiros e bordas, entram melhor as pedras decorativas de menor granulometria. Já para vasos ou floreiras, a preferência recai sobre pedriscos ou granilhas, que facilitam a drenagem e evitam compactação da terra.
Além disso, é importante considerar o clima local, a frequência de chuvas, o tipo de solo e até a incidência de luz solar. “A composição do terreno e o uso previsto interferem diretamente na durabilidade e no visual da pedra ao longo do tempo. Em regiões com muita poeira ou umidade, por exemplo, pedras porosas tendem a escurecer mais rapidamente”, destaca Rafael.
Marília também chama atenção para o impacto ambiental da escolha: “Algumas pedras, como os seixos de rio, envolvem extração predatória. Por isso, o uso consciente passa por valorizar fornecedores certificados e, sempre que possível, recorrer a reaproveitamento ou materiais alternativos com estética semelhante”.
Tipos de pedra mais utilizados em jardins
Entre as opções naturais mais procuradas, o granito é um dos queridinhos por sua resistência e aparência sofisticada. Pode ser usado em placas, seixos ou rachões e se destaca em caminhos e escadas integradas ao jardim. Se polido, é ideal para detalhes, mas pode ser escorregadio. Quando flameado, adquire textura antiderrapante, perfeita para áreas externas.

O mármore, por sua vez, confere um ar elegante e contemporâneo, sendo comum em bordas de piscinas, caminhos e espelhos d’água. Apesar da estética refinada, exige mais manutenção, principalmente em relação a manchas e exposição a ácidos. Já a pedra São Tomé, um quartzito nacional, é valorizada pela sua rusticidade, durabilidade e conforto térmico. Está presente em caminhos, bordaduras e áreas de estar com exposição direta ao sol.
Outra pedra bastante funcional é o pedrisco, que oferece boa drenagem e custo acessível. Seus tons variam entre cinza, palha e preto, e são ótimos para composições mais naturais. O seixo, com seu formato arredondado, cria uma atmosfera orgânica e é comum em espelhos d’água e entre pisos drenantes — embora hoje seu uso dependa de uma origem sustentável.

Menos conhecidas, mas bastante práticas, a granilha e a dolomita também marcam presença em jardins residenciais. A primeira, feita de minério moído, vai bem em vasos e bordaduras. A segunda, derivada do mármore, exige mais limpeza e tende a sair de moda por seu aspecto artificial e baixa durabilidade visual. Já a argila expandida, embora não seja uma pedra no sentido estrito, aparece como alternativa leve e eficiente para drenagem — especialmente em jardins verticais ou floreiras suspensas.
Dica de instalação e manutenção
Para garantir que as pedras desempenhem bem sua função, o ideal é prepará-las sobre uma base de areia e manta geotêxtil. Essa estrutura facilita a drenagem e impede o contato direto com a terra, evitando o surgimento de barro e ervas daninhas. A manutenção varia de acordo com o tipo de pedra: materiais porosos exigem lavagens frequentes, enquanto pedras escuras ou granuladas disfarçam melhor a sujeira e a ação do tempo.
Mais do que uma escolha visual, o uso correto de pedras no paisagismo valoriza o jardim como um todo. “A pedra certa, no lugar certo, transforma o ambiente — seja criando contraste com as plantas, acolhendo os pés de quem passa ou revelando texturas que o olhar descobre aos poucos”, conclui Marília.

Mel Maria, é proprietária da floricultura Mel Garden e apaixonada por plantas e jardinagem, dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.