Ao olhar rapidamente, a espirradeira (Nerium oleander) parece uma escolha perfeita para embelezar o jardim. Suas flores vistosas, que variam entre tons de rosa, branco e vermelho, contrastam com o verde vibrante das folhas, criando uma estética tropical encantadora.
No entanto, por trás dessa beleza exuberante, está uma das plantas mais venenosas cultivadas em áreas urbanas e rurais. O perigo da espirradeira não é apenas simbólico — ela pode, de fato, ser fatal, mesmo em pequenas quantidades.
Veneno em cada detalhe da planta
Originária da região do Mediterrâneo e do extremo Oriente, a espirradeira se adaptou muito bem ao clima brasileiro. Porém, o que muitos jardineiros e curiosos desconhecem é que todas as partes dessa planta — folhas, flores, caules, raízes e até mesmo a seiva — são altamente tóxicas. Dois compostos naturais presentes em sua estrutura, a oleandrina e a neriantina, atuam diretamente no sistema cardiovascular, podendo causar parada cardíaca em poucos minutos após a ingestão.

“Essa é uma planta que jamais deve ser manipulada sem a devida proteção”, alerta o botânico e paisagista Tiago Bortolatto. “O simples contato da seiva com a pele já pode provocar irritações severas. E, se levada à boca ou inalado o pó resultante da poda, o risco de intoxicação aumenta consideravelmente.”
Sintomas silenciosos, efeitos devastadores
Os sintomas de envenenamento por espirradeira geralmente começam de forma sutil: náuseas, vômitos, tontura e dor de cabeça. No entanto, em poucos minutos ou horas, esses sinais podem evoluir para quadros graves de confusão mental, diarreia intensa, batimentos cardíacos irregulares e colapso circulatório. A intoxicação pode ser ainda mais rápida em crianças e animais de estimação, o que transforma a planta em uma ameaça silenciosa em jardins residenciais.
O toxicologista clínico Dr. Eduardo Nogueira explica que o consumo acidental de qualquer fragmento da planta deve ser tratado como uma emergência médica. “É uma das poucas espécies ornamentais em que não há margem segura para exposição. Não existe dose mínima aceitável. Em muitos casos, um único pedaço já é suficiente para colocar a vida em risco.”
Não é só ingestão: o contato e o cheiro também oferecem risco
Outro fator preocupante é que a espirradeira oferece perigo mesmo sem ser ingerida. Durante a poda, por exemplo, o manuseio das folhas libera uma seiva leitosa, de aparência inofensiva, mas que pode causar queimaduras na pele e inflamações nos olhos. A inalação do cheiro ou de partículas da planta, especialmente quando seca ou triturada, pode provocar laringite, tosse persistente e reações alérgicas severas.

Além disso, quando plantada em locais acessíveis, a planta atrai a curiosidade de crianças e animais domésticos. Por isso, especialistas alertam para o risco de cultivá-la em áreas onde há livre circulação desses grupos mais vulneráveis.
Cuidados indispensáveis para quem cultiva a espirradeira
Apesar de todos os riscos, a espirradeira continua sendo bastante utilizada em projetos paisagísticos pela sua rusticidade e floração prolongada. No entanto, seu cultivo exige responsabilidade. Usar luvas grossas e ferramentas específicas ao podá-la é essencial, bem como lavar bem as mãos após qualquer contato. É recomendável descartar as aparas imediatamente, longe do alcance de pessoas e animais.
Evite também utilizá-la em áreas comuns, como jardins escolares, praças ou calçadas residenciais. Seu apelo ornamental não compensa o risco. E se houver qualquer suspeita de intoxicação, a orientação é procurar atendimento médico imediatamente, levando, se possível, uma amostra da planta para identificação.

A autora Mel Maria, é dona de floricultura, apaixonada por plantas e jardinagem, que dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.