A natureza é especialista em criar obras de arte vivas — e o abricó-de-macaco é, talvez, uma das mais espetaculares. Originária da Amazônia e de outras florestas tropicais da América do Sul, essa árvore de nome curioso e aparência exótica não passa despercebida em nenhum jardim ou parque em que esteja presente. Com flores grandes, perfumadas e de coloração intensa, que surgem em inflorescências ao longo do tronco, a Couroupita guianensis se tornou símbolo de paisagens tropicais exuberantes e, mais do que isso, de espiritualidade em diversos países.
Seu fruto, que lembra uma bola de coco de casca dura e aparência rústica, é o responsável por seu nome popular. Em seu habitat nativo, costuma cair ao chão com força, atraindo macacos e outros animais frugívoros, que ajudam a espalhar suas sementes. Apesar de sua aparência incomum, essa árvore desempenha um papel importante no equilíbrio ecológico e vem ganhando espaço também em projetos paisagísticos que apostam na originalidade e na biodiversidade brasileira.
A beleza impressionante da floração
Um dos grandes espetáculos proporcionados pelo abricó-de-macaco é sua floração, que acontece durante quase todo o ano em regiões tropicais, com maior intensidade nos meses mais quentes. Diferente da maioria das espécies, suas flores não brotam nas pontas dos galhos, mas sim diretamente no tronco — um fenômeno chamado de caulifloria, bastante raro na natureza.

As flores são grandes, exalam um perfume adocicado e apresentam uma paleta que vai do rosa ao vermelho intenso, com detalhes em amarelo. Segundo a botânica e pesquisadora Marina Alves, da Universidade Federal do Amazonas, “as flores do abricó-de-macaco são estruturas complexas e fascinantes, evoluídas especialmente para atrair grandes polinizadores, como abelhas e besouros. Seu formato e fragrância desempenham papel crucial na reprodução da espécie.”
Aliás, há quem diga que a beleza dessa floração é tamanha que a árvore se tornou objeto de adoração em países como a Índia e o Sri Lanka, onde é cultivada em templos e considerada sagrada. Lá, ela é associada a Shiva e outras divindades, sendo utilizada em cerimônias religiosas — um detalhe cultural que reforça sua importância além da estética.
Fruto curioso, mas não comestível
Se a flor chama atenção pela beleza, o fruto não fica atrás no quesito peculiaridade. Grande, redondo e com casca resistente, ele lembra uma bola de madeira. Quando maduro, cai no chão com um estrondo característico, quebrando-se e liberando um forte odor — que, apesar de não ser agradável para os humanos, é um verdadeiro atrativo para a fauna local.

De acordo com o engenheiro florestal Fernando Trigueiro, especialista em espécies nativas tropicais, “o fruto do abricó-de-macaco não é comestível para o ser humano devido ao cheiro forte e à composição interna, mas é uma fonte rica de alimento para animais silvestres. Ele também tem importância medicinal em algumas culturas, sendo usado de forma empírica no tratamento de infecções e inflamações.”
Por esse motivo, é comum encontrar a árvore em reservas florestais ou grandes áreas abertas, onde os frutos podem cair livremente sem causar acidentes. Afinal, seu peso é considerável, e deixá-la próxima a locais de passagem pode representar risco, especialmente quando os frutos se desprendem em dias secos.
Cultivo e curiosidades sobre a espécie
Embora seja uma árvore de crescimento relativamente rápido, o abricó-de-macaco exige espaço, luz e clima quente para se desenvolver plenamente. Não é uma espécie recomendada para quintais pequenos ou calçadas urbanas — tanto pelo porte robusto quanto pela presença constante de frutos no chão, que podem incomodar quem não está familiarizado com suas características.

No paisagismo, ela é muito bem-vinda em parques, sítios, jardins botânicos e espaços que priorizem a preservação da flora nativa. O solo ideal é fértil, bem drenado e rico em matéria orgânica, com regas regulares nos primeiros anos após o plantio. Quando bem cuidada, pode atingir até 25 metros de altura e oferecer sombra generosa, além de ser um verdadeiro chamariz para a biodiversidade ao redor.

A autora Mel Maria, é dona de floricultura, apaixonada por plantas e jardinagem, que dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.