Poucas plantas conseguem reunir tantas qualidades quanto a murta-de-cheiro (Murraya paniculata). De aparência delicada, com pequenas flores brancas perfumadas e folhas sempre verdes, ela é muito mais do que uma simples opção de cerca-viva. Seu aroma, que remete ao jasmim e às flores cítricas, se espalha pelos jardins como uma assinatura inconfundível da natureza. Mas não para por aí: essa espécie milenar carrega propriedades medicinais, valor culinário e até significado espiritual em diversas culturas.
Nativa do sul da Ásia, a murta se adaptou tão bem ao clima tropical brasileiro que hoje é presença constante em calçadas, quintais e projetos de arborização urbana. Sua versatilidade permite que ela seja cultivada como arbusto, arvoreta ou até bonsai. Seu ciclo perene garante um visual verde o ano todo, com florescimento contínuo que atrai polinizadores e oferece charme duradouro ao paisagismo residencial.
Entre o sagrado e o sensorial
Cercada por mitos e tradições, a murta-de-cheiro também possui forte presença no imaginário simbólico de diferentes culturas. Na Antiguidade grega, a planta era associada ao amor e à fertilidade, sendo usada para adornar noivas em cerimônias de casamento. Já no simbolismo bíblico, representa renovação, beleza e fé, aparecendo em passagens sagradas como símbolo de restauração espiritual.

No misticismo contemporâneo, a murta continua a ser valorizada como planta de proteção, utilizada em rituais de purificação e em buquês energéticos. Sua fragrância envolvente evoca paz e serenidade, conectando a casa com elementos da natureza e do sagrado.
Uma planta resistente e fácil de cuidar
Apesar de exalar delicadeza, a murta-de-cheiro é uma planta extremamente resistente. Ela tolera tanto o calor intenso quanto o frio moderado, adaptando-se bem a diferentes regiões do Brasil. Seu crescimento é relativamente rápido, especialmente quando cultivada sob sol pleno — condição ideal para estimular uma floração intensa e prolongada.
A engenheira florestal Denise Calado, especialista em arborização urbana, destaca que a murta-de-cheiro é uma aliada dos espaços públicos. “É uma planta de raiz não agressiva, que pode ser usada com segurança em calçadas e pátios, sem risco de danificar estruturas. Além disso, seu perfume natural contribui para criar espaços sensoriais, trazendo bem-estar ao ambiente”, explica.
Para garantir que a planta cresça saudável, é essencial oferecer um solo fértil, bem drenado e rico em matéria orgânica. Embora tolere meia-sombra, a incidência direta do sol por ao menos seis horas diárias é determinante para sua vitalidade. A rega deve manter o solo úmido, sem encharcar — o que ajuda a prevenir fungos e doenças radiculares. Podas de formação são recomendadas após a floração, enquanto a adubação semestral ajuda a fortalecer a folhagem e intensificar o perfume das flores.
Versatilidade paisagística e beleza ornamental

No paisagismo, a murta-de-cheiro ocupa um papel de destaque. Quando cultivada em fileiras e submetida a podas regulares, ela forma cercas-vivas densas e bem estruturadas, ideais para quem busca privacidade sem abrir mão da elegância. Por outro lado, quando deixada crescer de forma mais livre, ela assume a forma de uma pequena árvore, com copa arredondada e sombra suave, perfeita para pequenos jardins.
O arquiteto paisagista Marcos Ribeiro ressalta que a planta é ideal para composições com frutíferas e outras espécies floríferas. “Ela funciona como pano de fundo em canteiros mistos, valorizando plantas com flores de cores vivas. Além disso, é uma excelente escolha para jardins aromáticos, onde o perfume das flores se torna parte da experiência do espaço”, comenta.
Multiplicação e cuidados com as mudas
A murta-de-cheiro pode ser propagada tanto por sementes quanto por estaquia, sendo esta última a mais eficaz para preservar as características da planta-mãe. O ideal é fazer a estaquia no final do verão ou início da primavera, aproveitando o momento de maior atividade da planta. Galhos mais firmes, com cerca de 15 centímetros, devem ser plantados em substrato drenável, mantido úmido até que ocorra o enraizamento.

Durante os primeiros meses, é importante regar frequentemente, preferencialmente no final da tarde, para garantir a adaptação da muda. Um vaso grande ou canteiro profundo, bem iluminado, ajudará na formação de raízes fortes. Com os devidos cuidados, a planta estará pronta para ser transplantada ao local definitivo em poucas semanas.
Murta que cura, tempera e perfuma
Além de sua aplicação ornamental, a murta-de-cheiro é uma planta tradicionalmente usada na medicina popular. Suas folhas, flores e frutos possuem propriedades anti-inflamatórias, antissépticas e expectorantes, sendo recomendadas no tratamento de infecções respiratórias, como bronquite, sinusite e tosse persistente. Chás preparados com suas pétalas também auxiliam em processos digestivos e inflamações leves da mucosa oral.
Na gastronomia, as folhas e bagas da murta são utilizadas como tempero, oferecendo um toque levemente picante que combina com marinadas de carnes, peixes e até conservas. As flores podem ser usadas frescas em saladas ou secas em infusões, criando um aroma delicado e refrescante.
O óleo essencial extraído da planta é amplamente empregado pela indústria cosmética, sendo ingrediente frequente em sabonetes, perfumes e produtos para cuidados com a pele. Seu uso externo, inclusive, é indicado para auxiliar em casos de psoríase, gengivite e pequenas infecções cutâneas.

Autora convidada, Ivani K. é uma paisagista e jardineira com mais de 30 anos de experiencia, apaixonada por criar espaços que vão além da estética. Seus posts são informativos, criativos e motivadores, ajudando as pessoas a criarem seus próprios oásis verdes.