Apesar de pouco conhecida fora dos círculos botânicos e de paisagismo mais especializados, o cambarazinho (Chromolaena laevigata) é uma joia do bioma sul-americano. Com suas flores delicadas e arroxeadas, essa planta nativa de áreas tropicais e subtropicais vem ganhando espaço em jardins voltados à preservação da biodiversidade e à criação de ambientes mais naturais, ricos em cor e vida.
Versátil, rústica e resistente, a espécie é uma excelente escolha para quem deseja atrair polinizadores, como abelhas e borboletas, sem abrir mão da beleza ornamental.
Origem brasileira e identidade nativa
Originária da América do Sul e muito presente na Mata Atlântica, a Chromolaena laevigata faz parte da flora nativa brasileira e tem sido cada vez mais valorizada em projetos de reflorestamento e paisagismo ecológico. Seu nome popular, cambarazinho, remete às formas mais delicadas da planta, uma espécie herbácea e subarbustiva que cresce bem tanto em áreas abertas quanto em bordas de mata. Por seu crescimento espontâneo e capacidade de adaptação a diferentes tipos de solo, ela é frequentemente encontrada em clareiras, beiras de estradas e terrenos em regeneração.
A bióloga e pesquisadora em flora nativa Silvana Grecco explica que o cambarazinho tem papel importante na recuperação de áreas degradadas. “É uma planta pioneira, ou seja, é uma das primeiras a ocupar solos que passaram por processos de desmatamento. Suas raízes auxiliam na cobertura vegetal e sua copa atrai fauna benéfica para o ecossistema, como polinizadores e dispersores de sementes”, afirma a especialista.
Características e floração
O cambarazinho apresenta folhas simples, ovais e levemente aveludadas, com margens serrilhadas e coloração verde intenso. Mas é nas flores que reside seu maior charme: dispostas em inflorescências densas, as pétalas de tom lilás a violáceo se abrem em abundância entre o fim da primavera e o início do outono, criando uma mancha colorida e leve que parece flutuar no jardim.
Embora sua beleza seja suave e quase silvestre, a floração do cambarazinho é altamente atrativa para insetos — especialmente abelhas nativas e borboletas — o que o torna uma escolha ideal para jardins sensoriais e áreas que visam a restauração ecológica.
Versatilidade em ambientes urbanos e naturais
Apesar de seu porte modesto, o cambarazinho é extremamente versátil. Pode ser cultivado em canteiros, taludes, jardins verticais e até mesmo em vasos grandes, desde que tenha acesso ao sol direto por pelo menos algumas horas do dia. A arquiteta paisagista Beatriz Melo, especialista em jardins com flora brasileira, destaca que a planta pode ser inserida em projetos que combinam espécies nativas e exóticas com resultados surpreendentes: “Ela funciona muito bem como pano de fundo para plantas tropicais mais volumosas. Além disso, sua textura delicada cria um contraste interessante com espécies de folhas maiores, como helicônias ou alpínias.”
Outro aspecto relevante de sua versatilidade está na rusticidade. O cambarazinho não exige podas frequentes, adapta-se bem a solos pobres e pode resistir a longos períodos de estiagem depois de bem estabelecido. Essa característica o torna uma planta de baixa manutenção, excelente para jardineiros iniciantes ou projetos que buscam reduzir o uso de insumos e água.
Cuidados essenciais para um crescimento saudável
Para que o cambarazinho cresça vigoroso e se mantenha florido por mais tempo, alguns cuidados básicos são recomendados. O solo deve ser bem drenado, preferencialmente com adição de matéria orgânica, como composto ou húmus de minhoca. Embora tolere a seca, a rega regular durante os primeiros meses após o plantio é essencial para o enraizamento.
A adubação pode ser feita no início da primavera com formulações ricas em fósforo, que favorecem a floração abundante. A exposição solar é outro fator determinante: a planta precisa de pelo menos quatro horas de luz direta por dia para florescer com intensidade. Em regiões de clima muito frio, o cambarazinho pode sofrer com geadas, mas geralmente se recupera bem com a chegada da primavera.
Além do apelo ornamental, é importante lembrar que o cambarazinho representa uma ponte entre o paisagismo e a conservação. Ao escolher espécies como essa, o jardineiro contribui para manter viva uma parcela importante da nossa flora nativa, oferecendo abrigo e alimento para a fauna local — um gesto simples que se reflete na beleza e no equilíbrio do espaço ao redor.
A autora Mel Maria, é dona de floricultura, apaixonada por plantas e jardinagem, que dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.
