Quando o assunto é forração de jardins, nem sempre o gramado convencional é a melhor escolha. Em espaços onde o paisagismo pede contraste, sofisticação ou simplesmente algo mais delicado, a grama-preta — de nome científico Ophiopogon japonicus — surge como uma opção surpreendente e funcional. Apesar do nome, essa planta não é uma grama no sentido botânico, mas sim uma herbácea ornamental perene, originária da Ásia, e especialmente popular no Japão e na China.
Visualmente, a grama-preta impressiona pelo conjunto de folhas finas, arqueadas e de coloração verde muito escura, que às vezes parece negra, principalmente quando iluminada por luz indireta ou ao entardecer. Esse efeito dramático e elegante faz dela uma forração ideal para delimitar caminhos, bordas de canteiros e contornos de arbustos. E mais: ela oferece um contraste natural belíssimo com flores claras, pedras e espécies de folhagem mais aberta.
“Além da estética sofisticada, a grama-preta exige pouca manutenção, o que é um atrativo enorme para projetos contemporâneos ou de baixa intervenção”, explica a paisagista Vanessa Prado, especialista em jardins residenciais com foco em espécies nativas e tropicais. Ela reforça que, por ser uma planta de crescimento lento, o controle do volume e do contorno é simples, o que evita podas frequentes ou remodelagens no canteiro.

Entretanto, vale uma ressalva importante: diferentemente das gramíneas tradicionais, a grama-preta não tolera pisoteio constante. Isso a torna inadequada para áreas de circulação, como jardins frontais ou espaços infantis. Seu uso deve ser direcionado a bordaduras decorativas, vasos rasos ou canteiros protegidos, onde seu aspecto escultural possa ser valorizado sem ser danificado.
Versátil, ela se adapta bem a diferentes tipos de solo, desde que haja boa drenagem. Ambientes com meia-sombra ou sol pleno suave são ideais para seu desenvolvimento. Em regiões muito quentes, o ideal é protegê-la do sol direto nas horas mais fortes do dia. A rega deve manter o solo levemente úmido, sem encharcar. Como reforça o engenheiro agrônomo Felipe Mattos, do Viveiro Verde Vale, “a grama-preta aprecia umidade moderada e substrato com matéria orgânica, mas é bastante resiliente à estiagem quando bem estabelecida”.
Em relação à multiplicação, o método mais eficiente é a divisão de touceiras — processo simples que pode ser feito no início da primavera ou após o verão. Basta retirar a planta com cuidado, separando pequenas porções com raízes e replantando em local definitivo. Esse ciclo garante a manutenção do canteiro e permite replicar a forração por todo o jardim ao longo do tempo.

Outro atrativo da Ophiopogon japonicus está na sua discrição ornamental: além do efeito visual das folhas, ela floresce em determinadas épocas do ano, geralmente no verão, com pequenas e delicadas flores roxas ou azuladas, que crescem rente à base da planta e podem passar despercebidas. Ainda assim, são um charme a mais para quem observa o jardim de perto.
A grama-preta também tem uso interessante em vasos decorativos, especialmente em áreas internas bem iluminadas ou varandas com meia-sombra. Seu formato compacto e sua textura fluida fazem dela uma excelente planta complementar para composições com suculentas, palmeiras ou espécies tropicais de maior porte.
Por fim, apesar de sua aparência frágil, a planta é bastante resistente a pragas e doenças, o que contribui para seu status de “forração coringa” em diversos estilos de projeto, desde os mais minimalistas aos jardins tropicais exuberantes. Como ressalta Vanessa Prado, “o paisagismo está cada vez mais atento aos detalhes, e a grama-preta é uma solução elegante para destacar, contornar e valorizar o que realmente importa no jardim: o conjunto”.

Mel Maria, é proprietária da floricultura Mel Garden e apaixonada por plantas e jardinagem, dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.
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