Poucas receitas são tão antigas e eficazes na jardinagem quanto a calda bordalesa. Desenvolvida no final do século XIX, no sul da França, ela surgiu como uma solução para conter pragas nos vinhedos da região de Bordeaux. Desde então, essa mistura simples — composta por sulfato de cobre, cal virgem e água — passou a ser usada no mundo todo, inclusive no Brasil, como um defensivo agrícola de amplo espectro, com resultados positivos em hortas, frutíferas, flores e até plantas ornamentais.
O segredo do sucesso da calda bordalesa está justamente em sua ação fungicida e bactericida preventiva. Quando aplicada corretamente, ela cria uma película protetora sobre as folhas e caules das plantas, impedindo que fungos e bactérias encontrem ali um ambiente favorável para se desenvolver. Essa camada age como um escudo natural contra doenças como a ferrugem, oídio, míldio, antracnose e a requeima — problemas frequentes em ambientes úmidos ou mal ventilados.
“Ela é uma aliada importante no manejo ecológico do jardim, pois, além de eficaz, tem baixa toxicidade e é aceita em sistemas de agricultura orgânica”, explica a engenheira agrônoma Daniela Ferro, especialista em fitopatologia e manejo sustentável.
Apesar de parecer uma solução antiga, a calda bordalesa ainda é muito usada em viveiros profissionais e na jardinagem doméstica. Especialmente no cultivo de roseiras, tomateiros, frutíferas tropicais e hortaliças, seu uso preventivo evita que doenças se alastrem e reduz a necessidade de defensivos mais agressivos posteriormente. Segundo o paisagista Ricardo Della Rosa, é justamente a aplicação preventiva que faz toda a diferença.
“O maior erro de quem começa a usar a calda bordalesa é aplicá-la só quando a planta já está doente. Mas o ideal é agir antes do problema aparecer, respeitando os ciclos da planta e os períodos de maior umidade”, orienta.

A aplicação, no entanto, exige atenção. A mistura precisa ser preparada corretamente — respeitando as proporções exatas para evitar o excesso de cobre, que pode queimar as folhas ou se acumular no solo. O ideal é diluir o sulfato de cobre em um balde com água, dissolver a cal virgem em outro recipiente com água e depois unir lentamente os dois líquidos, mexendo sempre. A solução deve ser usada no mesmo dia da preparação e aplicada preferencialmente nas primeiras horas da manhã ou no final da tarde, quando a evaporação é menor e os tecidos das plantas estão menos sensíveis.
Além disso, é fundamental aplicar a calda somente em dias secos e sem previsão de chuva. A chuva pode lavar a camada protetora antes que ela tenha tempo de agir, comprometendo sua eficácia. “A reaplicação depende do clima e do tipo de planta, mas em geral deve ser feita a cada 15 dias, especialmente durante a primavera e o verão, que são as estações mais críticas para doenças fúngicas”, detalha Daniela.
Outro ponto de atenção diz respeito ao tipo de planta. Algumas espécies mais delicadas, como samambaias ou suculentas, não toleram bem o cobre presente na calda e podem ser prejudicadas pela aplicação. Por isso, antes de utilizá-la, é importante entender as características da planta e, se possível, testar em uma pequena parte do cultivo antes de expandir a aplicação.
Mesmo sendo um produto considerado seguro, o uso contínuo e em excesso pode alterar o equilíbrio do solo e afetar a microbiota natural. Por isso, seu uso deve sempre estar associado a boas práticas de jardinagem, como o plantio em solo rico em matéria orgânica, o uso de compostagem e a observação constante da saúde das plantas.

Mel Maria, é proprietária da floricultura Mel Garden e apaixonada por plantas e jardinagem, dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.
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