No Sul do Brasil, onde o inverno costuma ser visto como uma trégua natural contra pragas agrícolas, um pequeno inseto continua desafiando os produtores e os pesquisadores. A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), apesar das baixas temperaturas e das geadas típicas da região, se mantém ativa e capaz de comprometer drasticamente o desempenho das lavouras. E é justamente esse comportamento resiliente que tem exigido novas estratégias de manejo e monitoramento.
“Mesmo com a redução populacional na última safra por conta do frio, é indispensável manter o monitoramento desde o plantio até o estádio V10 da cultura”, alerta o entomologista Glauber Renato Stürmer, pesquisador da cooperativa CCGL. Ele é o responsável por desenvolver um modelo inédito de predição da cigarrinha, capaz de antecipar os picos populacionais e ajudar o agricultor a planejar o manejo com mais precisão.
A importância desse novo recurso se torna evidente diante do potencial de estragos causados pela praga. Em casos extremos, as perdas podem ultrapassar 90% da produção. O dano ocorre principalmente quando as cigarrinhas infectadas com vírus e bactérias se instalam em lavouras ainda jovens. Segundo Stürmer, elas migram a partir de vegetações resistentes ao frio — como gramíneas e plantas espontâneas — onde encontram abrigo, alimento e água durante o inverno. “Essas populações infectadas são extremamente nocivas, porque contaminam o milho safra justamente no estágio mais vulnerável, o início do seu desenvolvimento”, explica o pesquisador.
Embora o clima invernal possa reduzir momentaneamente os adultos visíveis na lavoura, ele não impede a continuidade do ciclo da cigarrinha. A praga resiste às baixas temperaturas graças à presença de vegetações verdes durante o ano todo, resultado da sobreposição de safras na região Sul. Essa prática, ainda comum em muitas áreas produtoras, favorece a sobrevivência de populações jovens, que se alojam nas partes inferiores das folhas e se alimentam silenciosamente, sem chamar atenção à primeira vista.
Para conter esse ciclo contínuo e silencioso, o uso de armadilhas específicas tem se mostrado uma ferramenta indispensável, segundo Stürmer. Aliás, ele reforça que o manejo deve ser integrado e estratégico, com aplicação de inseticidas que atuem não apenas nos adultos, mas também nas ninfas — fase que representa o verdadeiro motor da reposição populacional.
“O aumento das fases jovens da cigarrinha potencializa o problema, porque elas alimentam-se e repõem rapidamente os adultos. Quebrar esse ciclo é, sem dúvida, uma das estratégias mais eficazes para o controle”, conclui o pesquisador.
Além disso, com a expansão prevista das áreas cultivadas neste ano, o desafio tende a crescer. Por isso, investir em monitoramento inteligente e ações de controle precisas não é apenas uma recomendação técnica — é uma condição essencial para garantir produtividade e proteger o milho de perdas irreparáveis.

Mel Maria, é proprietária da floricultura Mel Garden e apaixonada por plantas e jardinagem, dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.
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