A agricultura brasileira, embora gere cerca de 28% das emissões nacionais de gases de efeito estufa, também pode ser uma das maiores aliadas na luta contra o aquecimento global. Ao mesmo tempo em que contribui para o problema, o campo possui ferramentas únicas para reverter essa situação e garantir que a produção de alimentos se mantenha robusta, mesmo em um cenário de mudanças climáticas cada vez mais desafiador.
Maurício Cherubin, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), explica que o agronegócio pode transformar seu papel no combate às emissões. “Além de reduzir a liberação de gases com técnicas como o manejo sustentável do solo, o uso racional de fertilizantes nitrogenados e a alimentação estratégica do gado para minimizar o metano, a agricultura também pode capturar carbono da atmosfera e estocá-lo nos solos e plantas”, afirma o professor. Ele ressalta que a recuperação de pastagens degradadas e o uso de sistemas integrados — que unem lavouras, pastagens e árvores — são práticas que aumentam essa capacidade.
O processo funciona, em essência, por meio da fotossíntese: as plantas retiram o CO₂ do ar e o incorporam aos seus tecidos. Esse carbono permanece temporariamente estocado em sua biomassa e parte dele migra para o solo, criando um estoque que, quando bem manejado, contribui para mitigar as emissões globais. “Nas florestas, o carbono fica preso por muitos anos. Já na agricultura, o ciclo é mais rápido, mas a área cultivável é imensa e o potencial para sequestrar carbono no solo representa uma oportunidade estratégica para o Brasil”, destaca Cherubin.
Enfrentando os impactos climáticos no campo
Se por um lado a agricultura tem potencial para capturar carbono, por outro precisa lidar com a própria vulnerabilidade diante da crise climática. Cherubin alerta que as mudanças nos padrões de temperatura, chuvas e radiação solar já têm gerado perdas severas em diversas partes do País — desde secas no Centro-Oeste e Sul até enchentes no Rio Grande do Sul e o avanço da aridez no Nordeste. Essas instabilidades climáticas impactam diretamente a produtividade das lavouras e a segurança alimentar.
“Talvez a agricultura seja o setor mais exposto aos impactos do clima, pois depende de variáveis que estão fora do nosso controle direto. Por isso, investir em um solo saudável e equilibrado é fundamental. Quando o solo mantém boa estrutura e riqueza em matéria orgânica, ele consegue armazenar água e nutrientes, suportando melhor o estresse hídrico e as altas temperaturas”, recomenda o professor.
Práticas que aumentam a resiliência do campo
Entre as técnicas mais promissoras, Cherubin destaca os sistemas integrados — como o silvipastoril e a integração lavoura-pecuária-floresta — que criam microclimas mais amenos e melhoram o conforto térmico para plantas e animais. Ao intercalar espécies arbóreas com cultivos e pastagens, essas práticas aumentam a sombra e reduzem a temperatura do solo, além de sequestrar carbono e preservar a umidade.
Outro recurso eficiente, segundo o professor, é o biochar — um carvão vegetal rico em carbono que, quando incorporado ao solo, melhora a retenção de água e a disponibilidade de nutrientes. “Essa tecnologia contribui para que as plantas superem melhor os períodos de estiagem e aumenta a resistência da lavoura a condições adversas”, explica Cherubin.
Ele lembra que o cenário climático projetado para o futuro inclui temperaturas mais altas e chuvas menos previsíveis, especialmente das regiões Centro-Sul para cima. Por isso, a implementação dessas técnicas em maior escala será decisiva para que a agricultura nacional siga uma trajetória de crescimento, mantendo a produtividade e reforçando a sustentabilidade e a resiliência frente às mudanças que já são realidade.

Mel Maria, é proprietária da floricultura Mel Garden e apaixonada por plantas e jardinagem, dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.
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