Você já parou para pensar no quanto a natureza é generosa com a gente — e no papel encantador que as abelhas desempenham em tudo isso? Do mel que adoça nossos dias aos perfumes florais que amamos sentir, tudo passa pelo trabalho silencioso e incansável desses pequenos seres alados. Agora, um projeto que nasce no Paraná promete dar mais brilho à cadeia produtiva da apicultura, com um olhar atento à sustentabilidade, à valorização dos produtores e à qualidade dos produtos que chegam até nossa casa.
O estudo “Cadeia produtiva da apicultura no Paraná”, coordenado pelo economista Carlos Eduardo Caldarelli, da Universidade Estadual de Londrina, mergulha fundo na realidade de quem vive da criação de abelhas. Mais do que pensar em mel, ele analisa também o própolis, a geleia real, a cera, a apitoxina (usada na indústria farmacêutica) e o impacto vital da polinização, que mantém 73% das plantas cultivadas no mundo em pleno florescimento.
O desafio de organizar o que é, por natureza, livre
Diferente de outras criações do campo, as abelhas são livres. Elas precisam voar entre flores, árvores e campos. Justamente por isso, mapear onde vivem, como se movimentam e como cada ambiente influencia sua produtividade é um passo essencial para fortalecer o setor.
Carlos Caldarelli explica que o objetivo do projeto é “definir um sistema articulado de produtores que compreendam a sua atividade, como inserir o seu negócio no mercado e como melhorar o posicionamento do produto”. Essa organização — chamada de sistematização — pretende transformar a apicultura em uma rede mais conectada, sustentável e preparada para os desafios do futuro.
Com o apoio do NAPI Abelhas, rede de pesquisadores apoiada pela Fundação Araucária, a iniciativa pretende promover mais gestão, sustentabilidade e desenvolvimento socioeconômico, especialmente entre os pequenos apicultores.
Certificação: mais do que um selo, uma mudança de mentalidade
Um dos focos mais importantes do estudo é estimular a certificação orgânica dos produtos apícolas. Isso significa garantir ao consumidor que aquele mel ou própolis foi produzido respeitando normas rigorosas, com cuidado ao meio ambiente e ao bem-estar das abelhas.
“Os produtores conhecem o conceito da certificação, mas o que falta é articulação, organização, incentivo”, diz Caldarelli. Para ajudar nesse processo, será lançada uma cartilha educativa com dez passos para a certificação, reunindo orientações técnicas que vão desde a documentação da propriedade até as boas práticas ambientais — como o controle da presença de agrotóxicos e o cuidado com cursos d’água próximos.
Além da certificação orgânica, o projeto também quer incentivar o registro de indicação geográfica. Uma espécie de “carimbo de origem”, esse selo destaca a reputação de produtos típicos de certas regiões — como o mel de Capanema, no sudoeste do Paraná, cujas abelhas coletam pólen de uma rica biodiversidade próxima ao Parque Nacional do Iguaçu. Resultado? Um mel com sabor, textura e coloração únicos.
Como medir a qualidade do mel?
Diferente de produtos como o café, que já contam com parâmetros bem definidos para classificar seus diferentes níveis de qualidade (especial, gourmet, etc.), o mel ainda carece de métricas claras que permitam comparações ou certificações precisas.
É por isso que o projeto quer lançar, já em 2026, um concurso estadual do mel, que irá estabelecer critérios como acidez, viscosidade, cristalização e pureza. “A ideia é criar balizadores e diretrizes para o setor, porque o mel é muito heterogêneo, depende da florada, da espécie da abelha e de fatores regionais”, destaca o professor.
Essas informações vão ajudar a elevar o nível do produto no mercado, possibilitando que o produtor receba mais por um item de maior qualidade — o que, por consequência, gera renda, incentiva boas práticas e valoriza o consumidor.
Mais renda, mais saúde, mais natureza preservada
O impacto do projeto ultrapassa a produção de mel. A apicultura é uma aliada poderosa da alimentação saudável, da renda familiar no campo e da preservação da biodiversidade. Ao estruturar essa cadeia produtiva, o estudo também contribui com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, estimulando práticas que respeitam o meio ambiente, protegem as abelhas nativas e fortalecem a agricultura familiar.
Além disso, ao investir em certificações, capacitação e organização, o projeto ajuda a reduzir desigualdades no campo e transforma o pequeno apicultor em protagonista de uma nova economia, mais consciente e conectada com o futuro.
Como diz Carlos Caldarelli, “um estudo recente aponta que, a cada três mordidas que uma pessoa dá em um alimento, duas dependem diretamente da ação das abelhas. Sem elas, não teríamos frutas, nem verduras. Elas são essenciais à vida. Fortalecer a apicultura é proteger a nossa alimentação e o nosso planeta.”

Mel Maria, é proprietária da floricultura Mel Garden e apaixonada por plantas e jardinagem, dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.
Discussion about this post