Quem já visitou ou vive no Sul do Brasil certamente reconhece a imponência das araucárias, árvores majestosas cujas copas em formato de cálice são vistas à distância, formando cenários dignos de cartões-postais.
A araucária, ou pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia), não é apenas uma árvore típica da paisagem regional: é um símbolo de identidade, memória e cultura, conectando gerações através de suas sementes, os pinhões, e de sua presença marcante em áreas naturais e urbanas. Mas além de seu forte simbolismo cultural, essa espécie carrega uma história milenar que se confunde com a própria evolução das florestas brasileiras.
Uma história milenar gravada na natureza
A história evolutiva da araucária começa muito antes do surgimento dos primeiros habitantes humanos nas terras brasileiras. Pesquisas paleobotânicas apontam que as araucárias estão presentes na Terra há mais de 200 milhões de anos, remontando ao período Jurássico, época dos grandes dinossauros. Atualmente, entretanto, a Araucaria angustifolia é encontrada principalmente na região Sul, com ocorrência em áreas do Sudeste e até do Centro-Oeste brasileiro. Sua distribuição atual é resultado de milhões de anos de adaptação a climas mais frios e solos bem drenados, típicos da região Sul.
Essas árvores milenares já dominaram vastas extensões da Mata Atlântica, formando o bioma conhecido como Floresta com Araucária ou Floresta Ombrófila Mista. Hoje, lamentavelmente, seu território natural está reduzido a menos de 3% da área original devido à exploração madeireira intensiva no passado, o que reforça ainda mais a importância da preservação dessa espécie.
Cultura e tradição ao redor da araucária
Muito mais que uma espécie botânica, a araucária ocupa lugar especial na cultura do Sul brasileiro. Suas sementes, os pinhões, fazem parte da gastronomia típica e são protagonistas nas festas juninas e no inverno rigoroso da região. O engenheiro florestal Ricardo Barbosa ressalta: “A araucária não é apenas uma árvore ornamental, mas um elemento cultural que mantém vivas tradições alimentares e sociais, ligando gerações de famílias através da colheita e preparo do pinhão.”

Além disso, o processo de coleta dos pinhões envolve técnicas tradicionais que, ao serem transmitidas, mantêm vivos hábitos culturais centenários. Comunidades indígenas e camponesas reconhecem na araucária um recurso vital, tanto alimentar quanto econômico. Para Barbosa, “o manejo sustentável e consciente da araucária contribui não só para a conservação da espécie, mas também para o fortalecimento dessas comunidades, que têm nela uma fonte essencial de renda e identidade cultural.”
A importância ecológica e ambiental da araucária
Ecologicamente falando, as araucárias exercem um papel insubstituível na preservação do meio ambiente. Seus frutos são importantes fontes alimentares para diversas espécies animais, como a gralha-azul, que é reconhecida como principal dispersora das sementes da árvore. Segundo a bióloga especialista em ecologia florestal, Adriana Sampaio, “sem a ação dessas aves, a araucária teria dificuldades para regenerar suas populações, o que poderia levar à diminuição ainda maior das florestas onde ela ocorre naturalmente.”
Além disso, as raízes profundas das araucárias contribuem para a conservação dos solos e das nascentes, protegendo mananciais importantes. A presença dessas árvores também auxilia na manutenção do microclima regional, proporcionando ambientes mais amenos e contribuindo para o equilíbrio ecológico.
Os desafios e esforços para conservação da espécie
Apesar de sua relevância cultural e ambiental, a araucária ainda enfrenta graves ameaças, como o desmatamento e a exploração predatória. Por isso, ações de conservação são fundamentais para que a árvore-símbolo do Sul continue resistindo e prosperando. Programas de conservação têm sido criados com iniciativas locais e estaduais, incentivando o plantio consciente e a proteção das matas naturais remanescentes.
Projetos de reflorestamento estão se multiplicando, recuperando áreas degradadas e garantindo a continuidade da espécie. Além disso, campanhas educativas reforçam a importância cultural e ambiental das araucárias, ampliando o respeito e a compreensão de sua importância histórica.
Para Barbosa, ações combinadas de conscientização e manejo sustentável são a chave para garantir o futuro das araucárias: “Precisamos conscientizar as novas gerações sobre a importância histórica, ecológica e cultural dessa árvore. Só assim teremos a certeza de que a araucária não ficará apenas no passado ou em cartões-postais, mas continuará viva e relevante para o nosso futuro.”

Autora convidada, Ivani K. é uma paisagista e jardineira com mais de 30 anos de experiencia, apaixonada por criar espaços que vão além da estética. Seus posts são informativos, criativos e motivadores, ajudando as pessoas a criarem seus próprios oásis verdes.