A escalada de tensão entre Irã e Israel tem despertado não apenas inquietações geopolíticas, mas também sinais de alerta em campos bem distantes do Oriente Médio — como as plantações brasileiras. Em meio aos ataques e ameaças, uma preocupação em especial se alastra entre os produtores rurais: o impacto que esse conflito pode causar no mercado de fertilizantes, especialmente os nitrogenados, fundamentais para cultivos como milho, café, arroz, algodão e citros.
Isso porque o Irã ocupa uma posição estratégica na cadeia global de produção de amônia anidra — substância que serve de base para fertilizantes como a ureia, essencial para o vigor vegetativo das plantas. Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o país persa responde atualmente por cerca de 7% a 8% da produção global de ureia, número considerável o suficiente para provocar abalos na cadeia internacional em caso de sanções econômicas ou bloqueios logísticos causados pela guerra.
A preocupação se justifica. “Quando há conflitos em regiões-chave para a indústria química, o fornecimento de insumos fica instável. E o agro é um dos primeiros setores a sentir esse impacto, tanto na oferta quanto no custo dos fertilizantes”, alerta Júlio Rocha, engenheiro agrônomo e consultor em nutrição vegetal. Ele lembra que a dependência brasileira de importações ainda é alta — cerca de 85% dos fertilizantes usados no país são trazidos do exterior.
Essa vulnerabilidade cria um cenário de apreensão principalmente para os agricultores que operam em margens estreitas de rentabilidade. A ureia, por exemplo, é um insumo diretamente associado ao crescimento vegetativo de grãos e frutas. Se os preços subirem, o custo final da lavoura sobe também — e, por consequência, chega à mesa do consumidor.
Além disso, a instabilidade no Golfo Pérsico, somada a possíveis retaliações comerciais, pode afetar rotas marítimas estratégicas para o transporte de insumos químicos. A consequência? Logística mais cara e previsibilidade quase nula. De acordo com o economista Rafael Ferreira, especialista em comércio agrícola, “um eventual bloqueio ao Irã, que já enfrenta sanções de outros países, tornaria o abastecimento mais difícil e geraria volatilidade imediata nos preços da ureia nos portos brasileiros”.
Essa volatilidade já é sentida com apreensão no mercado de futuros. Muitos produtores têm optado por antecipar compras de insumos, mesmo com o dólar instável, numa tentativa de se proteger de um novo salto nos custos, como já foi observado durante a pandemia e com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, dois outros grandes fornecedores de matérias-primas agrícolas.
Com o agronegócio sendo o pilar da balança comercial brasileira, qualquer descompasso nos custos de produção tende a gerar efeito dominó. Isso inclui não apenas a inflação sobre os alimentos, mas também a retração em investimentos no campo, como renovação de maquinário, contratação de mão de obra e expansão de áreas cultiváveis.
Em resumo, a crise entre Irã e Israel não é apenas um conflito distante nos noticiários internacionais: ela toca diretamente o coração do agro brasileiro. E em um setor onde cada centavo investido pode definir o sucesso ou o prejuízo da safra, o preço da paz — ou da guerra — pode se tornar um fertilizante amargo demais para ser absorvido.

Mel Maria, é proprietária da floricultura Mel Garden e apaixonada por plantas e jardinagem, dedica sua vida ao estudo e cultivo de uma variedade de espécies botânicas. Sua paixão pela natureza a levou a se tornar autora do site e uma jardinista experiente, cujo conhecimento é compartilhado com os leitores.
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